Toma um fósforo acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que te afaga, é a mesma que te apedreja. Se alguém causa ainda pena a tua chaga apedreja essa mão vil que te afaga, escarra na boca que te beija! RE-Incidente em Antares: maio 2007

segunda-feira, maio 14, 2007

ATÉ LOGO E OBRIGADO PELOS PEIXES
E o papa foi embora. E que loucura foi esse país. Aprendemos nesses dias, além que papa se escreve com p minúsculo, que se você fizer sexo com camisinha você vai pro inferno, que você pode ser alemão e morar na Itália e ainda assim falar português melhor que o presidente do Brasil, entre outra coisas.
Ah, não podemos esquecer a canonização no Campo de Marte (só não foi no de Vênus porquê, já disse, camisinha é coisa do capeta!). Temos um santo. Santo Antonio de Sant'Anna Galvão. Sabe o que isso muda na vida da maioria dos brasileiros?
Nada. Absolutamente nada.

quinta-feira, maio 10, 2007

Mesquinharia, hipocrisia e queda de cabelo.

Não há miséria ou desgosto pessoal que não possa ser aplacado um tiquinho pela desgraça alheia, eis uma verdade inconsciente, suja, mas universal. Não é a toa que a santidade é um estado de exceção, e que todos os santos parecem padecer de certa anomalia em sua psique. O estado natural do ser humano é a mesquinharia. A tentativa de civilização foi uma maneira de domar a inhaca pegajosa do comportamento das pessoas. Claro que outras tantas ninharias nasceram deste mesmo processo civilizatório, o que corresponde dizer que a mesquinharia humana é ilimitada mesmo.

Mas volto à frase primeva e ilustro a dita cuja com exemplo próprio: tenho um ligeiro começo de calvície que me aflige, dadas às proporções generosas do meu crânio. Dois amigos meus, mais jovens que assim como eu, apresentam já uma calva avançada e proeminente. Confesso: é um alívio contemplar-lhes a fronte bem mais desencapada que a minha, o que me tira certo peso dos ombros. Sei que o exemplo é mixuruca e fútil, mas estou sem muita coragem de expor minhas vísceras com uma demonstração de uma mesquinharia pessoal mais metafísica.

Mas o negócio é que é assim com tudo, compreendem? Não há uma estupidez pessoal incontornável ou falta de talento estratificado que não possa ser mitigado com uma carência ainda maior de valores do próximo (quanto mais próximo, maior o alívio, aliás). Coisa boa à natureza humana não socializar equanimemente virtudes e vícios, mas estabelecer um padrão mais ou menos comum de equilíbrio-a mesquinharia-que suaviza e ameniza os desacertos. Prova de que nem todo mal necessariamente vem pra mal, dependendo das circunstâncias.

E ainda tem um bem intrínseco neste mal, um quê de revelação moral: quem diz que não sofre dele, mente, possivelmente sendo mais mesquinho ainda (não, não, os santos não dizem que não são mesquinhos: ao contrário, dizem que são os piores dos seres, almejando tornarem-se os melhores seres desta forma-que é um caso a parte de esquisitice).

Em suma, o sujeito que diz não sofrer de mesquinharia tem a mesma multiplicada ad infinitum pela hipocrisia, vício que, por sua vez, também tem lá suas virtudes, como, por exemplo, a de freio para instintos desagradáveis de sinceridade extrema que podem causar danos irreparáveis em amizades e relações amorosas. Mas aconselha-se a devida moderação em ambos os vícios.Alguma hipocrisia é necessária, muita é sinônimo de falta de caráter;alguma mesquinharia é vital à saúde mental, muita é sinônimo de canalhice.Perigoso mesmo é a tentativa de anulação de ambas, o que pode resultar em santidade , chatice, ou maluquice mesmo, dependendo da enverdagura do sujeito.