Toma um fósforo acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que te afaga, é a mesma que te apedreja. Se alguém causa ainda pena a tua chaga apedreja essa mão vil que te afaga, escarra na boca que te beija! RE-Incidente em Antares

quarta-feira, novembro 28, 2007

The Good, The Bad e Eu.

O sol inicia sua jornada 40 graus. Escondo-me nas asas dos anjos (ou serão demônios)? Assim, tenho mais chances de ver gente e não fardas. Em preto, branco e infinitos moicanos, contraste. Ok. Nada mal para uma primeira análise. A cada kilômetro que nosso ônibus avança, avança nossa sagaz preparação. A esta altura, o ácido começa a fazer efeito. Imagens desconexas assombram minha realidade a oitenta por hora rumo ao maior show punk, senão o único, em anos nesta região.

Aguardente. Quesito de locomoção. Esta foi além. Por quê? È simples. Luis, Neca e os outros na pressa pelo combustível, esqueceram de lavar o garrafão que antes armazenava gasolina. Meu corpo agora tem vida própria, e me ordena. Abrir uma janela pensei, nem pensar. A densa névoa do cânhamo, que entorpecia nossas mentes, era mais densa que o ar. Que supostamente nos mantinha vivos. Mas verdade seja dita, naqueles quentes dias lisérgicos. O ambiente era preenchido pelos Ramones. Luis grita lá do fundo: “ Hey ho Let’s Go, Gabba gabba wizaa, one, two three, four. Luciano, que a essa altura já havia se transformado no mister hyde cantarola bêbado rouco e louco sua canção predileta: “Have a nice day. That's all I hear every day” . Que acabou se tranformando entre brindes, gritos e o máximo que oitenta kilômetros de ônibus fretado rumo a um show de rock pode proporcionar. O motorista, obviamente instruído, trancou-se na cabina e vez por outra, filava um gole, afinal, queria entrar no estilo. Camisa da turnê na mão, porque tinha de manter-se composto enquanto dirigia. Afinal alguém tinha de fingir-se sóbrio, caso viéssemos a defrontar com os fardados. O caminho alimentado pela expectativa é longo, mas não infinito. Chegamos. Hora de encher a mente. Uma rápida checagem. Sim eu ainda estou vivo. Vejo não distante o portão da Gameleira, onde passarei as próximas cinco horas deste infernal, (se me permitem o perdão da expressão) domingo. Em minha mente ecoa “Have a nice day. That's all I hear every day Have a nice day. I don't believe a word you say”. Mulheres, bebida, juventude, transgressão. Perigo iminente, o que mais posso querer? Ah? A fila. Incrível como meus amigos conseguiram esgueira-se com tamanha facilidade através da muralha de corpos à nossa frente, incluindo claro, as fardas. Agora percebo, o calor tenta consumir-me, como se o próprio Lúcifer estivesse presente. O que explicaria a alcunha destes eventos para meus pais. ‘Inferninho “. Mas neste momento me vem outra música a conturbada mente, creio que o ácido juntamente com o resto começa a fazer efeito. Ah, sim, a música”.I Believe in Miracles”

Minhas perspectivas não são nada boas. Na fila, com o sol a pino, feirantes, ambulantes e afins, atacam de todos os pontos cardeais. Luis e seus asseclas bebem vodka barata mais atrás na fila. As minhas custas, claro. Passava das três horas, e a maconha consumida no ônibus made in Itaúna começava a turvar minhas sinapses como uma fórmula clássica da época. Bem. Se juventude realmente cheira a espírito juvenil e Kurt Cobain tinha razão meu pecado seria perdoado. No momento que passo as roletas me percebo num mundo melhor: uma muralha de pessoas literalmente vitaminadas trajando fantasias negras e calças apertadas querem que me torne um deles. Pense neles como uma espécie à parte. Envio uma mensagem a minhas pernas, e minutos lisérgicos depois estou correndo para o moch. Nenhuma farda tenta me impedir. Sabem que não são páreos para minha euforia; derrotá-los-ei. Nem que custe minha vida.

Lembro-me do segundo propósito desta expedição. Encontrar o que resta do melhor punk rock desta década. Abrem minha mochila, mas não encontram nada. Tudo que realmente importava já estava na cabeça. Aliás, vocês sabem, câmeras e bebidas alcoólicas são proibidas dentro da Gameleira. E não podemos esquecer o combustível, bebidas baratas estrategicamente acomodadas nas bolsas das garotas. Amigas. Enfim, nossas mulheres.
Bebida barata para ambiente requintado se é que vocês me entendem. As pessoas correm pateticamente ao ouvirem o menor ruído das gigantescas caixas do palco. Eu, por acaso, estou próximo a elas. De repente vejo minhas mãos e elas estão fora de foco. Tento com meu allstar. Apenas para descobrir que eles derreteram. Agora sim, estou fudido.

Coloco o boné e tento ver alguma luza frente, mas o contexto me impele a sacar o bom e velho ray-ban. De súbito ouço ou talvez sejam ainda minhas sinapses confusas me comunicarem: - Hey Ho Let’s Go. Hey Ho Let’s Go. Sim. Joey Ramone em toda sua magnificência ao lado da boa e velha trupe. Durante a espera já mencionada quase me esqueci de citar a presença de bandas emergentes como o Viper , na época com os vocais de André Mattos. O Sepultura em seu momento Kaiovas com o bom e velho Max Cavalera. E não menos importante para nosso contexto o Overdose com seus anjos do apocalipse.

Mas voltando ao Ramones, entre Durango e Poison Heart existe mais rock n’ roll, que nossa vã ignorância. O ar deixou de ser teen spirit, para tornar-se adrenalina. Entre cabelos íngremes coloridos e tratados a sabão rio, pseudos skins, figurantes e entusiastas, consumou-se o primeiro e único show da maior banda punk da história. Ramones.

Nota. Qualquer semelhança entre nomes, pessoas e circunstâncias é mera coincidência.