Toma um fósforo acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que te afaga, é a mesma que te apedreja. Se alguém causa ainda pena a tua chaga apedreja essa mão vil que te afaga, escarra na boca que te beija! RE-Incidente em Antares

sexta-feira, fevereiro 01, 2008


Jhonny like's Tarantino



A pior produção do cinema brasileiro desde a fraude de "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", "Meu Nome Não É Johnny" atingiu nesta semana 1 milhão de espectadores no Brasil. Se o filme de Cao Hamburger procurava copiar as fórmulas de sucesso de filmes latino-americanos como “Kamchatka” , o de Mauro Lima descaradamente reúne ingredientes manjados da produção recente brasileira. Estão ali a malandragem carcerária de “Carandiru”, os horrores de uma prisão psiquiátrica de “Bicho de Sete Cabeças”, um banditismo nostálgico de “Cidade de Deus”, o encanto da violência e o “charme” do submundo urbano .
A prática não se limita ao cinema nacional; "Johnny" absorve até elementos típicos de Quentin Tarantino. A certa altura, há um diálogo, conversa fiada, entre dois personagens que confundem Tarcísio Meira e Francisco Cuoco. Seria gracioso se não fosse uma verdadeira cópia de um recurso usado por Tarantino sacar fantasmas do esquecimento e transformá-los em referência cult. A menção poderia ser um gesto carinhoso de reverência ao mestre norte-americano. Porém, num contexto de tantos pequenos plágios, a cena acaba virando só mais um deles.
“Meu Nome Não É Johnny” segue uma toada previsível. João Estrella é um garoto de classe média que era arruaceiro na infância e torna-se um adolescente revoltado após a separação dos pais. Num inocente encontro com amigos na praia, dá sua primeira “bola”. E, do inocente baseado, logo se transforma em viciado em cocaína. Sem o apoio dos pais a mãe, distante, e o pai, adoecido, com um apelativo câncer de pulmão , João “se perde” nas drogas”. Dizer que essa trama é um exemplo de moralismo raso seria um chavão. Dá até preguiça. A história se passa nos anos 80. E, para criar o clima dessa década, os recursos são os piores possíveis.
Como se não bastasse João possuir um Passat e um punhado de gírias oitentistas surgirem a cada diálogo, tenta-se também criar, de um modo romântico e nostálgico, o contexto que produziu artistas como Cazuza. Adivinhe só, basta juntar rock, álcool, sexo (drogas) e desesperança política, que o resultado imediato será a produção de sonhos e tragédias heróicas. Só que tudo é tão mal-feito o casting principalmente, que essa idéia fracassa. O resultado é artificial não só porque os atores principais não conseguem entrar naturalmente no clima da época mas também porque os figurantes são ainda piores do que eles. Os convidados das festinhas de João Estrella, por exemplo, sempre aparecem rindo para a câmera. Até mesmo quando são expulsos depois do chilique da personagem de Cleo Pires (uma atração à parte de humor involuntário), ou, pior, quando o pai de João tem um ataque cardíaco fatal. Tudo embalado por clássicos da rebeldia classe média de então, com Titãs (“Polícia”, é claro) e outras faixas óbvias. ( Ops, me surpreendi com Paco de Lucia nas locações de Veneza )
E temos Cássia Kiss como juíza "duraaaaaassa" cuja falta de envolvimento com o personagem só perde para Julia Lemmertz, incapaz de soltar uma lágrima convincente em cenas como a do julgamento que condena o filho. A juíza, no final, vê salvação no caso de João Estrella. Obviamente só porque ele é branco, sincero,( e classe média ) tem um olhar de Selton Mello triste , que não parece de modo nenhum um bandido de verdade. Dizer que aqui está um outro clichê seja da ficção, seja da vida real mesmo seria também fazer uma crítica repetitiva.
Por fim, onde está o excelente ator que protagonizou “Lavoura Arcaica”, a adaptação para o cinema do livro de Raduan Nassar? Apesar de, em “Meu Nome Não É Johnny”, Selton Mello ser exposto por todos os ângulos e com todas as expressões possíveis, não se vê ali nem um vestígio do talento que o ator demonstrou ao encarnar o atormentado André, do filme de Luiz Fernando Carvalho. É difícil adivinhar a que mais se presta o longa a não ser para abrir espaço para uma arrastada egotrip de Selton Mello.