Toma um fósforo acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que te afaga, é a mesma que te apedreja. Se alguém causa ainda pena a tua chaga apedreja essa mão vil que te afaga, escarra na boca que te beija! RE-Incidente em Antares

domingo, setembro 25, 2005

38x44=John Wayne

Votar contra um direito adquirido é triste. É votar contra o direito de escolha, contra o direito de decidir se um dia quero ter uma arma ou não. Não sou John Wayne, não quero ter nenhuma arma hoje, mas no futuro eu não sei. Se votar contra a venda de armas, voto contra a possibilidade de um dia mudar de idéia. Independente de bem ou mal, quero ter o direito de tudo, de fazer as minhas próprias escolhas.

Ao mesmo tempo, quase (e sou bonzinho com o “quase”) todo mundo que eu conheço que tem arma e anda armado é imbecil. Aliás, a maioria das pessoas comuns que exaltam as armas é de dois tipos: ou mal intencionada ou imbecil. Pra quê que eu quero ter uma arma? Pra aproveitar a chance de matar alguém? Pra não perder a oportunidade do pensamento suicida? Sopa para o azar. Todo dia tem briga de trânsito, de vizinhos, de bar, de futebol... tem malandro doidão e sem nada a perder assaltando na rua (vai reagir?)... tem alguém furioso, neurado, paranóico, arrasado, deprimido ou doido mesmo por aí... melhor desarmado e longe de mim.

Tem também aquela história, que já virou senso comum, de que bandido não compra arma em loja, compra da polícia. Bandido vai andar armado mesmo que seja proibido. Bom mesmo seria desarmar a bandidagem – coisa que não vai acontecer nunca. Ela andará armada com o cidadão comum desarmado, uma ratoeira. Mas não é só tiro de bandido que mata. Cidadão respeitável com arma na mão também é um perigo: ou ele treme com a arma na mão porque não sabe atirar direito, ou, se sabe, acha que é dono do mundo.

Fora o filho, inocente ou marginal, que frequentemente rouba a arma do pai para impressionar os amigos, levar para escola etc. Um dia um idiota desses entra num cinema atirando, resolve matar alguns desafetos na escola, estoura seus próprios miolos. Gente sem cultura, sem estrutura, sem noção achando que o mundo está a seus pés. Um poder desmedido nas mãos de um limitado.

Pior é que a decisão, mais uma vez, está nas mãos do despreparado povo. Voto obrigatório e uma desinformação só. Esse tal de plebiscito do desarmamento é absolutamente besta. Vai dar a chance da indústria das armas dar a grande virada em cima dos movimentos pacifistas. Se essa proibição não passa, vai ficar difícil recrudescer a venda de armas no país. O ideal seria dificultar ao extremo a venda, exigir uma burocracia mortal, aumentar exorbitantemente os impostos sobre armas e munições, sobretaxar tudo, tornar as armas pouco desejáveis. Se o sujeito está disposto a ter uma arma, que enfrente uma burocracia monstro (certidões de idoneidade, período de adaptação, vida investigada etc.) e pague 10, 20 vezes o valor dela. Assim, o valor de 19 armas fica para o estado investir em segurança pública.

Pior ainda é que mesmo que a proibição seja aprovada, as armas continuarão a circular. Não adianta proibir a comercialização e continuar a fabricação. A indústria bélica, com todo o seu poderio, continuará a fabricar armas e munições à vontade para fornecer aos contrabandistas. Estes, por sua vez, vão ganhar uma nova carteira de clientes (além dos traficantes e usuais fora-da-lei): os que comprariam em lojas.

Dizer que eu preferia a paz mundial, o fim das armas e o amor entre os povos é apelar demais para o clichê. Mas para não ficar em cima do muro, voto pela proibição. Sou contra o plebiscito burro, mas se sou obrigado, vou preferir votar contra o meu próprio direito de decisão. É triste, mas se existe (será?) alguém com estrutura suficiente para andar armado, este é o que deve pagar o pato. Não quero viver num mundo com imbecis armados pra todo lado. Não quero ser morto numa fechada banal de trânsito. Não quero levar tiro de algum fanático desiludido com o fracasso do seu time de futebol. Não quero gente que eu gosto acabando com a própria vida. Só quero ficar aqui com minhas ilusões e desilusões, engolindo mais esse sapo, esperando mais uma votação de maioria burra fazendo as escolhas do nosso futuro.