Toma um fósforo acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que te afaga, é a mesma que te apedreja. Se alguém causa ainda pena a tua chaga apedreja essa mão vil que te afaga, escarra na boca que te beija! RE-Incidente em Antares

quinta-feira, abril 06, 2006

Das tais afinidades eletivas


Amigos, parentes, amores, animais de estimação têm lá suas diferenças na escala de afeto, mas são todos igualmente dependentes de circunstâncias peculiares, quer sejam sociais ou psicológicas.Há pessoas com quem você trava amizade que eventualmente possuem características aparentemente detestáveis como arrogância, pedantismo, caráter frágil, etc.Mas estas mesmas pessoas, de acordo com o enquadramento e a alocação destas característcas, tornam-se, diante de seu julgamento, pessoas adoráveis pelos mesmos motivos pelos quais se poderia detestá-las.O contrário também é pertinente:pessoas adoráveis com virtudes inumanas de tão boas podem se tornar justamente aborrecidamente inumanas a certos olhos.
Triste mesmo são os tais conhecidos perpétuos, aqueles a quem, por eventualidade do destino, estamos às vezes condenados à eterna companhia.Alguns têm a má sorte de tê-los como parentes, às vezes até muito próximos.Um tio ou primo cacete, vá lá, mas imagine um filho ter de conviver com um pai intolerável, coitado, ou vice versa.A obrigação genética de amor incondicional é uma das maiores crueldades impostas pela natureza social humana.Uma família deveria ser escolhida a dedo depois dos dezoito anos de idade.Neste meio tempo, poderia haver um ‘’rodízio’’ de famílias pelo qual o infante passaria, dando seu veredito final sobre a mais simpática ao final da turnê.Sou um sujeito conservador em certos aspectos, mas no que tange a estas coisas de sangue e parentesco, sou anarquista libertário.Pais também poderiam renegar ou trocar seus filhos depois de certa idade.Por exemplo, se com dezesseis anos o rapazote começar a escutar axé music e pintar o cabelo de laranja,o pai poderia mandá-lo para uma instituição de caridade financiada pelo governo baiano ou outra coisa do tipo.Crueldade que nada.Certeza absoluta que as partes ficariam muito contetes depois de certo tempo.Este negócio de convivênca salutar com as diferenças é muito bacana até que apareça um disco de Amado Batista, um livro de Paulo Coelho ou qualquer coisa do gênero.
Amores, por sua vez, implicam circunstâncias mais patológicas que as aqui mencionadas amizades.Porque nas amizades, ainda há uma escolha mais ou menos racional das características que o agradam em determinada pessoa.No caso de amores e paixões, entram coisas como apelo sexual , idiossincrasias individuais , levando o sujeito a muitas vezes se enamorar de uma criatura totalmente estranha aos seus paradigmas e parâmetros.Não é à toa que o clichê que diz que amor e ódio se misturam é quase sempre corretíssimo.Também estão aí as paixões eternamente platônicas ou as que nunca dão certo que não me deixam mentir.Há um quê de perpétuo masoquismo no ato amoroso, como se houvesse uma vingança implícita de seu subconsciente contra aquela implicância com aquele seu parente chato com quem você nunca se deu bem.Há, claro, os amores corretos, organizados, matizados de acordo com afinidades específicas.Mas estes não são amores:mais parecem contratos burocráticos entre funcionários públicos