Toma um fósforo acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que te afaga, é a mesma que te apedreja. Se alguém causa ainda pena a tua chaga apedreja essa mão vil que te afaga, escarra na boca que te beija! RE-Incidente em Antares

domingo, outubro 09, 2005

A voz do diabo

O mal do diabo é que ele é incapaz de amar.Não consegue gostar de ninguém.Nem um tiquinho que seja.Sua incapacidade de sentir algo por alguém é que o torna presa de sua própria crueldade.Em suma, pode-se depreender desta lenda que a origem de todo o mal é a ignorância.Quer seja ela sentimental, moral, intelectual ou ética.Através da ignorância,uma pessoa está sujeita a se tornar um espírito de porco, quase tão feio quanto o diabo.
A personificação individual do capeta já é malcheirosa, que dirá de um povo inteiro.E bem sabemos(ao menos eu sei) que toda aglomeração cheira a mediocridade, condomínio preferencial do cramulhão.Por isto meu medo de decisões populares.Não, não é nada contra a democracia, dos males o menor, como já dizia Churchill.Mas creio que votações em membros de executivo e legislativo já são mais que suficientes para suprir meu desejo de consulta popular.Referendos para este ou aquele outro tema em particular sempre me cheiram a enxofre populista:o mal personificado de uns tantos políticos sapientes em sua ignorância moral calculada somado à burrice endêmica e coletiva do populacho.Desde quando cidadãos comuns são aptos a decidirem se comércio de armas deve ou não ser proibido?Desde quando pessoas comuns e em sua maioria mal informadas são aptas a decidirem pela liberação ou não de drogas ou qualquer outra coisa do tipo? Certas decisões devem se circunscrever a alguns especialistas e jamais serem mote de voto popular.Já imaginaram se submetem todas as decisões políticas ao público? Não haveria reforma previdenciária, a jornada de trabalho seria de duas horas mensais e o país(qualquer país) iria à bancarrota.Isto só para ficar em dois exemplinhos de ordem econômica.Desnecessário dizer que em um país como o Brasil, com oitenta por cento de analfabetos funcionais, a coisa se complicaria ainda mais.Desnecessário, mas digo assim mesmo, só para lembrar.
Não adianta, Voltaire estava mesmo certo:o povo precisa de uma canga.Mesmo em países mais civilizados, a constante de uma população é o senso comum, que é meio caminho andado para a mediocridadae, para o mal, pai e mãe de todas as formas de ignorância,e filha desta mesma união incestuosa.Tomem a Alemanha, país cujo histórico de filosofia e música é superior a todos os demais.Pois bem, qual o maior legado histórico da Alemanha no século vinte?O nazismo.Culpa de quem? Do povão, que aplaudiu Hitler e seus asseclas.
Ah sim, sim, o nazismo foi autocrático, mas justamente porque o povo quis assim.Eles que escolheram a canga errada, ora pois.Há que se ter um mínimo de bom senso(bom senso, não senso comum) e regra para escolher a canga certa.Por isto a idéia- se não genial, paliativa- de democracia representativa, em que votamos em quem nos irá guiar.A idéia de chefia de estado não é agradável, eu sei, mas esta é necessária justamente à manutenção de uma certa liberdade consentida, uma vez que liberdade escancarada se transforma em avacalhação, para conceituar eufemisticamente. E há que se escolher estes chefes de estado,, há que se formatar o estado em si, ainda que seja através de um voto por aproximação instintiva.Basicamente, há que se escolher o governo, cujos assessores, ministros e técnicos farão algumas escolhas mais acertadas por nós, sobre assuntos os quais não somos suficientemente informados.A possibilidade de erro ao votar em um comando de estado é enorme, e erramos continuamente, mas pelo menos não corremos o risco de sermos diretamente governados pelo povão, ou pelo diabo, como preferirem, através de referendos ou quaisquer outros instrumentos de absoluta e nefasta soberania popular.


Texto: Adrilles Jorge