Toma um fósforo acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que te afaga, é a mesma que te apedreja. Se alguém causa ainda pena a tua chaga apedreja essa mão vil que te afaga, escarra na boca que te beija! RE-Incidente em Antares

quinta-feira, outubro 27, 2005

Definições arbitrárias quase justas e suas consequências
Que diabos é ser você mesmo?Isto não existe, ora esta.Estas classificações de pedante, imbecil, cafajeste, blasé, são arbitrárias mas são máscaras reveladoras do que realmente somos.Alguns esgares caricatos são empréstimos de vieses comportamentais que escolhemos na falta de uma personalidade mais complexa a ser definida e que colam até mais ou menos bem, dependendo das circunstâncias.Ademais,gente muito comedida ou mesmo muito inescrutável é muito tediosa, sem graça.Prefiro os carismáticos, quer sejam adoráveis ou detestáveis.Amar e odiar deixa a gente vivo.Tenho o maior dó de quem não odeia ou não é odiado, de quem ama ou não é amado em profusão.Vidinha mais esmaecida destes que não têm inimigos abomináveis para detestar.Vejam só, não precisam nem ser palpáveis os inimigos.Basta abrir o jornal ou ligar a televisão que pululam dúzias de criaturas hediondas, que compensam um certo tédio de nossos bons sentimentos nos brindando com sensações de nojo, asco, náusea e repulsa.
A vida é tal e qual aquela lei clássica da física, a única que decorei(sabia que era por alguma razão):a cada reação corresponde uma reação.Assim com tudo.Na dalética da história, em um simples diálogo, em uma tese de doutorado, em uma obra de arte, e também, claro, com sentimentos como amor e ódio.Quem nunca odiou, não sabe amar direito.Ama como padre ou líder espiritual, com aquele amor plácido, xôxo, aguado e sem graça.Amor coletivo é coisa estranha.Ninguém ama tudo e todos ao mesmo tempo.Admito a hipótese carola de abraçar a sua cruz, de assimilar toda a realidade à sua volta,mas amar o tempo todo com sorriso complacente é coisa de psicóticos.Escolhe-se o que se ama ou se odeia. E justamente estas escolhas amorosas ou odiosas dão as devidas máscaras ajustáveis ao caráter que você vai compondo aos poucos com o que você tem mais à mão.
Caso seja um bocó apalermado, vai se contentar com o universozinho ao seu redor, e aí, pobre coitado, se for brasileiro, ,provavelmente se tornará um admirador de pagode , axé music e fatalmente se transformará em um barrigudinho desdentado contente da vida cantando para a vida te deixar levar.Mais ou menos detestável você será de acordo com sua simpatia, mas sempre detestável.Cumprirá, pois , a função social de ser menosprezado por gente melhor que você.Além de ser útil, estará em maioria e geralmente se sentirá em casa.E nunca desconfiará, nem de longe, que é uma criaturinha detestável.Muito pelo contrário:será bem feliz.
Caso não se adapte ao seu meio, haverá de ler, ouvir e assistir o que não diz diretamente respeito ao se habitat, mas diz respeito a algo maior que diz respeito a tudo o mais e além.Se ler um coisinha aqui , outra acolá, ver um negocinho ou outro, se tornará um pedante, talvez ainda mais detestável que os detestáveis popularescos.Se ler e ver um tantinho mais, com algum critério melhor de seleção, há alguma chance de se tornar alguém razoavelmente interessante, o que já lhe bota em uma rarefeita minoria.Ser alguém inteligente já depende um tanto de algumas características inatas.E , meu caro, nascendo inteligente, aproveitando sua inteligência, apurando o bom gosto e observando mais precisamente o que acontece ao seu redor, tenho a lhe dizer que as chances de se tornar um solitário infeliz são grandes, a não ser que você nasça no lugar certo , no momento certo.Já imaginaram quantos Shakespeares ou Mozarts em potencial não foram desperdiçados nascendo na Uganda?Sim sim, com raras, raríssimas exceções, o meio em que se vive é uma nhaca que atrapalha até mesmo os mais geniais.Poucos são os que, além do talento, têm força de vontade suficiente para superar algumas barreiras.Por vezes, a inteligência é até mesmo uma barreira para se tornar um radical em defesa de causa própria.Yeats dizia com razão que os piores sempre são cheios de intensidade passional enquanto os melhores são quase sempre meio borocochôs.Verdade.Há que se lembrar, claro, que Yeats, um inglês de fino berço, nasceu na hora e no lugar certo para explorar sua genialidade.
De qualquer modo, não se preocupe em ser genial que, de uma maneira ou de outra,o negócio dá muito trabalho.Esta coisa de enfrentar moinhos de ventos é de fato uma constante na vida desta gente.E dá trabalho, muito trabalho.Pode até ser recompensador, de alguma forma, mas a recompensa é muito abstrata, e não é visível a olho nu por quase ninguém, principalmente por aqueles barrigudos que se entopem de Chopp e de pagode, os tais detestáveis felizes que mencionei.Pensar dói, caros.Pensar de maneira muito sofisticada, então, causa cefaléia metafísica permanente.E a ressaca, apesar de poder ser eventualmente abonadora para o resto da humanidade, traz prejuízos à sua saúde individual.Então, pense bem se quer de fato pensar direito e se tornar, eventualmente, alguém adorável intrinsecamente, mas adorado por alguns poucos(às vezes, quase ninguém).