Toma um fósforo acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que te afaga, é a mesma que te apedreja. Se alguém causa ainda pena a tua chaga apedreja essa mão vil que te afaga, escarra na boca que te beija! RE-Incidente em Antares

segunda-feira, novembro 28, 2005

Padrões
Percebemos que estamos envelhecendo quando adquirimos certos padrões de comportamento, certos costumes que se revelam indissociáveis de nossa personalidade.Desde os sintomas mais naturais, quando sistematicamente dormimos de um lado da cama ou roemos as unhas até quando adquirimos vícios ideológicos de um viés ou outro.Envelhecer é ir perdendo paulatinamente o gosto da novidade das coisas e nos adequarmos a um padrão construido por nós mesmos, seja de que ordem for: filosófica, ideológica ou cotidiana e habitual .
Há os que se cercam de tamanho arcabouço de valores, regras e opiniões fechadas que acabam por se tornarem prisioneiros de suas próprias estruturas de comportamento e pensamento.São os neurastênicos, adeptos a um único sentido de vida criado por eles e que norteiam toda a sua vida baseados em seus pressupostos imutáveis.Bem, uma certa dose de neurastenia paranóica é até salutar, visto que o oposto, uma excessiva falta de padrões e opiniões caracteriza justamente o que chamamos de um idiota completo, cujo hino é aquela velha canção daquele barbudinho Hipponga de shopping center que clamava ser ‘’esta eterna metamorfose ambulante’’.Sim, sim, senhores, muitas pretensas libertações de atitude e comportamento nada mais são que franca apologia à imbecilidade.
E como balancear esta neurastenia de padrões fixos com um certo despredimento de valores? Ora, sei lá eu.O fato é que todos estamos condenados a ter opinião sobre seja lá o que for, principalmente sobre assuntos que não conhecemos, que sempre serão maioria absoluta:quer seja sobre política,gastronomia, sexo, vestuário, sempre estamos condenados a carregar bandeiras, sejam elas visíveis ou invisíveis, estando sempre implícitas em nosso comportamento.Andar na rua, se vestir, comer, etc, implica em revelar gostos, e ,portanto, em revelar uma personalidade.Talvez mesmo as assim chamadas verdades absolutas se circunscrevam a gostos particulares, desde uma preferência por feijoada ou sushi ou uma preferência por Nietzsche ou Kant.
Mas antes que me sobrevenham os elogios dos relativistas e antropólogos que fazem pulular os discursos de que tudo é relativo, devo dizer que sempre há um vencedor nestas opiniões contrastantes.Esta história de culturas e verdades que se complementam é balela.A arte e a verdade(melhor:o entendimento do que seja a verdade) são fruto do conflito de idéias, de gerações, de aspirações, de ideais.Nada se conquista pelo casto diálogo.A imposição é sempre feita no tapa, quer seja pelo tapa simbólico ou real mesmo.
Viver é brigar pelos seus ideais, por suas convicções, mesmo que seja para provar que comida ocidental é bem melhor que a oriental.Se há uma mistura aqui e acolá, é eventual e esporádica.Bach não combina com candomblé e nem feijão com estrogonofe, embora sempre haja excêntricos querendo provar o contrário.Pode haver um respeito a qualquer manifestação de gostos e idéias diferentes dos seus , mas sempre, intimamente, haverá aquela fagulha de disputa , aquela sensação quase que instintiva de querer provar que seus gostos e idéias são mais saborosos que os de outrem.Pode parecer exagero, mas este embate é todo o princípio que forma a evolução cultural da humanidade.
E portanto , para não me acusarem de pusilanimidade, atesto aqui a superioridade da feijoada em relação ao sushi.E pronto:deixo aqui minha contribuição pessoal ao processo evolutivo cultural da humanidade.