Toma um fósforo acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que te afaga, é a mesma que te apedreja. Se alguém causa ainda pena a tua chaga apedreja essa mão vil que te afaga, escarra na boca que te beija! RE-Incidente em Antares

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Restos constrangedores

Mudar de idéia é recorrente numa vida.Mas vez por outra quando a idéia tenha sido motivo de paixão ardorosa, o negócio da mudança fica doloroso.Como deixar de amar uma pessoa, descobrindo que a dita cuja é mau caráter, perniciosa e canalha.O desencanto é lógico, mas sempre fica uma mágoa que se traduz em uma certa utopia de talvez não se estar certo o suficiente sobre o caráter da outrora bem amada e também sobre seus próprias sentimentos atuais em relação à ela.Enfim, o mesmo se dá com crenças abandonadas, aquelas estruturas ideológicas que comandavam nossa vida e que de repente desmontam ao vento.Como perder o chão e ser obrigado a trocá-lo por outro(que geralmente é tão ou mais movediço que o último).
Assim em tudo, desde convicções políticas a aspectos mais religiosos ou éticos.Sempre fica um resíduo daquilo que você abandona no meio do caminho.Tal qual o ex-católico agora ateu que se benze ou reza quando ninguém está vendo e o faz por um medo atávico remanescente da infância(ai,ai, Freud...) quando os cânones cristãos assimilados eram expessão absoluta da verdade;tal qual um ex-comunista que depois de toda a história do stalinismo e da derrocada do famigerado sistema ainda afirma que o mesmo comunismo sobrevive enquanto sonho de um mundo melhor;como quando um petista frustrado ou envergonhado diz que votaria na reeleição de Lula ou nulo ‘’porque, ah, são todos iguais’’.
Não se sai ileso de uma crença que um dia foi absoluta.E mais grave: de uma maneira geral,a besteira, a ignorância e a cegueira sempre deixam rastros indeléveis na psique humana, ao contrário da inteligência, que se esvai ao menor sopro de alento mistificador.Talvez porque a inteligência pressuponha um certo ceticismo elementar, um certo desprendimento de convicções e um certo ar enjoadinho meio metafísico meio blasé que não é afeito aos temperamentos mais contentes e felizes.Pensar dói um bocadinho e o torna meio apartado de certezas absolutas, coisa que não leva necessariamente a uma vida particularmente esquemática e colorida.Por isto a tendência geral é se aferrar a estruturas mais fáceis, mais elementares que possam moldar um grau de adaptação afável às circunstâncias adversas.
E o pior é que em nosso mundinho medíocre, o pobre sujeito que , com toda honestidade intelectual e moral, muda de idéia, assume que errou, é taxado de vira-folha.Enquanto a mula de pensamento único do tipo Luis Carlos Prestes é premiada com o título de ‘’coerente’’.
Há, claro, que se tentar acreditar em uma ou outra coisa para pelo menos fingir(para si mesmo também) uma certa estabilidade moral e intelectual e, convenhamos, alguns princípios éticos são universais mesmo, embora os antropólogos multiculturais barbudinhos de rabo de cavalo digam o contrário.Mas ainda assim, meu caro leitor, quando abraçar uma idéia, abrace devagarinho, com sutileza,sem ‘’idealizar a idéia’’, capisce? Sem muito radicalismo, antes que ela, a infame idéia crave os dentes em você como uma daquelas vamps que usam botas de couro com salto quinze.E então, meu caro desavisado, você poderá correr o risco de se deslumbrar, de se apaixonar por uma megera vulgar e sair por aí dizendo que a fulana é casta, elegante e imaculada.Depois para voltar atrás, já viu...